quarta-feira, 10 de julho de 2013


Arte Sacra: Instrumento da Fé

Por Tobias Bonk Machado


A arte sacra, muito mais do que uma forma de expressão, tem a missão de de representar a Verdade. Seja pela arquitetura, pintura, escultura, música, textos etc. ela deve conduzir os fiéis ao Transcendente.

Diferentemente da arte religiosa, a arte sacra é atribuída de profunda sabedoria e fundamentação litúrgica e deve evocar e glorificar o Mistério de Deus, beleza excelsa de verdade e de amor.

Desde os primórdios do cristianismo, a arte estava presente como forma de representação para difundir a mensagem de Cristo e reconhecimento de e entre cristãos.  Inicialmente, a arte paleocristã trazia consigo inscrições e imagens bastante simplificadas, simbolizando Cristo por animais, pela natureza e, também por utensílios como, por exemplo, o peixe (em grego, Ichtus,  que, entre outras razões, perfaz as iniciais de Jesus Cristo Filho de Deus Salvador) e a âncora (esperança na promessa divina) e tantos outros. Elas eram principalmente inseridas nas catacumbas de cristãos, em túmulos subterrâneos.

Com o Édito de Milão, em 313, e a liberdade do cristianismo,  e pouco tempo depois, em 380, com a oficialização do cristianismo como religião do imperio romano, a arte cristã, em suas diversas formas de expressão, pode ser definitivamente difundida. A começar pela construção de edificações específicas ao culto. Enquanto no princípio do cristianismo a celebração eucarística era realizada em cavernas, em locais de reunião e edificações domiciliares [domus ecclesiae], agora ela teria edifício próprio, mesmo que adaptado de um prédio civil já existente, utilizado para outro fim. Assim, também, as demais formas de expressão foram sendo produzidas em maior escala. A elas não eram atribuídas a autoria, fato que só viria a ocorrer efetivamente um milênio depois.
Alguns séculos mais tarde, com a formulação dogmática da doutrina cristológica, a arte cristã passaria a refletir a dimensão humana de Cristo. Todavia a utilização das imagens sacras nas comunidades cristãs passaria a ser coibida. Era a iconoclastia, movimento político-religioso contrário à utilização de imagens que se estendeu até o ano de 842 quando a Imperatriz Teodora decretou o restabelecimeto definitivo do culto dos ícones.

Sim, a veneração do ícone está diretamente atrelada a quem nele é reproduzido e por isso, de fato, a arte sacra tem a finalidade de evangelizar. E mais: pela encarnação de Cristo, a arte oportuniza ao fiel vivenciar, por meio visível, o invisível. Assim como o sacerdote explana a sagrada escritura por palavras, o artista seja ele pintor, escultor, arquiteto etc., pelas formas e representações. O que muda é apenas o sentido: enquanto para um é a audição, para outro, a visão. E aí, no campo das artes, todo o arcabouço da simbologia oportuniza um enriquecimento teológico de forma a auxiliar o fiel em sua vida espiritual, de oração, de fé.

Assim, a iconografia [(do grego eikón: imagem; graphia: descrição) portanto “descrição, representação da imagem”] sagrada, tem por foco dar forma - utilizando-se de símbolos - à realidade transcendente, por meio das artes. Tudo está envolvido: cores, traços, forma, posicionamento. Catequética, em tudo há significado e, assim, contribui à meditação.

Por fim, a arte como expressão única do artista, sem relação com o mundo divino não vem ao encontro da missão da Igreja. Ao contrário, a arte para ser sacra, como mencionado por João Paulo II em Carta Apostólica, “deve tender a proporcionar-nos uma síntese visual de todas as dimensões da nossa fé”. Ou seja, deve ser instrumento que conduza o fiel ao espírito de oração, à exprimir a fé, a esperança, no entendimento de que o Senhor está presente na sua Igreja.

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